Clássicos como Banco Imobiliário ainda são recorde de vendas e lideram o mercado dos jogos, que excede os 150 mil por ano.
Sucesso clássico em dias de chuva, acampamentos e reuniões de amigos, o jogo de tabuleiro tinha tudo para ceder aos encantos e interatividades proporcionadas pela tecnologia e, no entanto, se mantém com uma fatia significativa do mercado de brinquedos – um em cada 11 vendas concretizadas no país no segmento são de jogos de tabuleiro. Nesse cenário, o Banco Imobiliário, mesmo após décadas, continua como líder de vendas de uma grande marca como a Estrela.
No Recife, ainda há um reduto seleto mas que consome bastante esse tipo de entretenimento. Um deles é o doutorando Roberto Pinheiro, 29, que entrou nesse universo há apenas cinco anos e atualmente integra em sua rotina duas sessões com os amigos por semana – em especial Summoner Wars, Troyes e Space Alert, a maior parte deles importados, comprados pela internet, mas com muita satisfação. “São caros, pois os jogos aqui no Brasil têm um custo elevado e importar envolve fretes e taxação que aumentam demais o valor final. Apesar dos pesares, o preço dos jogos, se comparado com outras formas de entretenimento, compensa mais.”
Mesmo com o grande número de jogos eletrônicos surgindo a cada instante, ele percebe aumento no público que joga tabuleiro. “De uns 3 anos para cá, o Brasil deu uma guinada grande e começou a trazer mais jogos. Tanto os bem recentes quanto os antigos, por exemplo Catan e Carcassonne, clássicos de 1995 e 2000″, opina. O aspecto social do jogo de tabuleiro deve ser um dos grande trunfos para esse “retorno” dele recentemente.
“Trabalho com computador, então qualquer oportunidade de fazer algo fora dele e em contato com outros seres-humanos é bem vinda. Quem não os experimenta há muito tempo, vale a pena rever. Os jogos deixaram de ser excessivamente demorados e extremamente dependentes de sorte. Existem jogos cooperativos, sem eliminação de jogadores, de blefe ou em tempo real… Uma infinidade. Tem para todos os tipos de gostos”, diz.
Quem adquire um jogo de tabuleiro lida com o fato de nem sempre usá-lo e com a necessidade para armazená-lo. Ainda assim, no ranking de brinquedos mais vendidos da história da Estrela, o Banco Imobiliário figura em primeiro lugar, com 35 milhões de unidades vendidas, o Jogo da Vida aparece na terceira posição, com 13 milhões, e em quinto lugar, Detetive, com 12 milhões. Considere, nesse aspecto, que o segmento também é marcado por preços elevados e imagine o apreço que os fabricantes têm pelos títulos.
Para o presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos, Synésio Batista da Costa, esses jogos não saem de moda porque existe a preocupação dos fabricantes em reformulá-los para atrair as crianças e porque os jogos são feitos com a intenção delas interagirem com outras pessoas, promovendo, ao mesmo tempo, desenvolvimento. “Historicamente, os jogos se mantêm perto da casa dos dois dígitos (8,6% em 2014) no faturamento anual do setor. Isso porque os fabricantes lançam sempre novidades e incorporam novas tecnologias aos que já existem. Além de inserir a criança no mundo imaginário, o jogo de tabuleiro recria o mundo real, fazendo com que a criança seja capaz de interagir com os demais”, explica.
A moda da locadora de jogos de tabuleiro
Pensando nas pessoas que às vezes sentem vontade de jogar, mas que não possui alguns títulos em casa, as locadoras de jogos de tabuleiro se multiplicaram em todo o país. Na capital pernambucana, um exemplo dessas locadoras ainda veio combinado com catálogo online e até um delivery. A ideia veio do recifense Victor Cabral, 26, logo após sair do antigo emprego e se ver diante de duas possibilidades: voltar ao mercado de engenharia de produção ou montar um negócio próprio. Assim surgiu a Ludoteca, uma biblioteca de jogos de tabuleiro expostos na internet, em que a pessoa escolhe entre diferentes tipos e preços.
A ideia veio de um bar paulista que disponibiliza um acervo de jogos aos clientes. “Como Ludo é um dos jogos mais conhecidos do mundo, optei por ele”. Atualmente, a Ludoteca possui cerca de 70 jogos, adquiridos aos poucos, e ele mesmo faz as entregas, de quarta a domingo. Os pedidos são feitos ao longo da semana, de clientes do Recife e de Jaboatão dos Guararapes.
Um prazer que não sai de moda
Além dos famosos jogos de tabuleiro, como Banco Imobiliário e Detetive, existem os mais modernos. Uma das responsáveis pela fabricação e vendas deles é a Editora Galápagos – fundada por apenas três pessoas e hoje com 17 funcionários. De início, o comércio era de apenas ideias próprias, até se abrirem para a importação de hits da Europa e Estados Unidos.
Somente no ano de 2015, foram entre 150 mil e 200 mil produtos. De acordo com um dos sócios, Yuri Fang, de 2014 para 2015 as vendas dos produtos duplicaram. “(O mercado) está crescendo bastante, dá para ver que apesar do ano (2015) ter sido difícil, cresceu bastante. O mercado ainda está aberto a muito espaço de crescimento”. Entre os mais vendidos estão Star Wars X-Wing, A Guerra dos Tronos, Kromaster Arena, Munchkin e Dixit.
A maioria do público consumidor é masculino (cerca de 70%) e tem entre de 16 e 34 anos. Quanto a diferença entre os jogos de tabuleiro e os jogos eletrônicos, a empresa aposta no contato físico. “A grande diferença é a interação, por mais que exista a virtual, as pessoas acabam não sentindo e não vendo a presença da pessoa. Você dá risada junto e pode ser uma fuga para a concentração dessas atividades digitais que são inerentes ao dia-a-dia”, pontua.
“O mundo dos jogos está começando a se desenvolver aqui no Brasil, as pessoas começam a tomar conhecimento do que está acontecendo e querem sugerir ou solicitar jogos a todo instante”, diz o sócio.